21 junho 2007

Pedro Cem


Silhueta da (erradamente chamada) Torre da Marca, também chamada Torre de Pedro Cem (designação correcta), situada em frente ao Palácio de Cristal, no Porto, onde, segundo a lenda, Pedro Cem teria visto a sua frota de navios afundar-se à entrada da Barra do Douro (Foto: TeoDias)

(...) Pedro Pedrossem da Silva foi, por corruptela do nome Pedrossem, o Pedro Cem. Nasceu no Porto, Portugal, e ai faleceu em 9 de fevereiro de 1775. Residia na Reboleira, perto do Douro. Mercador riquíssimo, diretor da Companhia dos Vinhos, Juiz de Confraria, figura imponente, era usurário e orgulhoso. Casara com dona Ana Micaela Fraga e tivera três filhos: - Luiz Pedrossem, falecido no Porto em 1730, o cônego João Pedrossem que foi Deão da Sé do Porto, e Vicente Pedrossem, rico comerciante, falecido em 1806, cavaleiro da Casa Real, casado com uma moça de excelente família, dona Maria do Ó de Caminha Ossman. Vicente Pedrossem possui uma das grandes fortunas na região do Douro.

A lenda conta que o velho Pedrossem olhando da torre da Marca avistou, entrando pela barra, suas frotilhas de naus, vindas do Brasil e das Índias, carregadas de especiarias, jóias e produtos caros. Cheio de vaidade exclamara: - Agora, mesmo Deus querendo, eu não posso ficar pobre!...

Uma brusca tempestade destruiu-lhe a frota. Pedrossem perdeu tudo quanto possuía. Sem amigos, que sua ostentação afastara, mendigava nas ruas do Porto: - Esmola para Pedro Cem que tudo teve e nada tem!...

Jamais le fait réel ne manque, escreveu Van Gennep estudando a formação das lendas. Pedrossem, de milionário faustoso, ficou pobre mas não mendigo. A diminuição de sua riqueza foi tomada como castigo ao seu desdém. O nome prestava-se e ainda havia a repetição de Pedro Pedrossem que deu o fácil e humilhado Pedro Cem, rima para "que tudo teve e hoje não tem". A venda de suas propriedades, sua retirada do grosso comércio, o retraimento social, fizeram o ambiente para a lenda. Pedrossem estava pobre mas nunca mendigou. (...)

(in Jangada Brasil - nº 23 - Julho 2000, onde se pode ler uma interessantíssima narrativa em verso, da autoria do poeta popular brasileiro João Martins de Ataíde, impressa em Recife, Pernambuco, em Junho de 1932; recomendo vivamente a leitura deste poema)

Comentários: 2

Blogger RUI XARUTO escreveu...

A Torre de Pedro Sem não é e nunca foi a Torre da Marca. A dita Torre da Marca era, em termos práticos, uma baliza para orientar a navegação no rio Douro, que estava situada sensivelmente onde hoje fica a extremidade da avenida das tílias, em frente à capelinha de Carlos Alberto, nos jardins do Palácio de Cristal. Naquele tempo, toda a área dos jardins correspondiam ao Campo da Torre da Marca. De grosso modo tratava-se de uma parede ameada com uma abertura que a atravessava obliquamente. Desde que fosse possível ver através dessa abertura navegava-se bem no rio. Foi parcialmente destruída durante o Cerco e não chegou a ser reparada. A sua utilidade deixou de existir com a construção da torre dos Clérigos, que passou a ser marco de referência.Talvez a lenda de Pedro Sem tenha dado origem à confusão, de resto habitual.Se Pedro Sem observava a barra do Douro a partir da Torre da Marca, é natural a associação deste nome à torre que conhecemos de Pedro Sem.

12 dezembro, 2011 16:52  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Prezado Rui Xaruto,
Muito obrigado pela sua rectificação. A legenda da fotografia que encima este artigo foi alterada em conformidade. Volte sempre.

13 dezembro, 2011 00:43  

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