04 junho 2011

Dança dos Espíritos Sagrados

Orfeu e Eurídice, bronze de Peter Vischer, o Moço (1487-1528), Museum für Kunst und Gewerbe, Hamburgo, Alemanha

Se eu tivesse que ir viver para uma ilha deserta e só pudesse levar uma coisa comigo, eu não hesitaria um momento sequer em escolher um CD, MP3 ou outro dispositivo qualquer que contivesse a Dança dos Espíritos Sagrados, da ópera Orfeo ed Euridice, do compositor alemão Christoph Willibald Gluck. É a minha música preferida de entre todas.

Foi esta música, mais do que qualquer outra coisa, que me aliviou o espírito angustiado, há muitos anos, quando eu me encontrava num período difícil da minha vida. Peço que não me leve a mal esta espécie de confissão íntima que acabo de fazer. Não quero que tenha pena de mim. Apenas quero realçar até que ponto eu gosto desta obra e quanto ela foi um bálsamo para mim. A Dança dos Espíritos Sagrados, de Gluck, é um verdadeiro refrigério para a alma.


Dança dos Espíritos Sagrados, da ópera Orfeo ed Euridice, de Christoph Willibald Gluck (1714-1787). A coreografia que aqui se vê é de Pina Bausch (1940-2009).

A música da Dança dos Espíritos Sagrados é constituída por dois temas, A e B. Primeiro é tocado o tema A, depois o tema B e por fim é repetido o tema A. No vídeo acima, existe um estranho acrescento de algumas notas, entre o tema B e a reexposição do tema A (entre os 6 minutos e 13 segundos e os 6 minutos e 27 segundos), que não fazem parte da partitura original de Gluck. Ainda por cima, essas notas não "encaixam" muito bem no resto da obra. Dão a impressão de que foram metidas "a martelo" e foram mesmo. Desconheço a razão de tão insólito acrescento. Não bastariam alguns segundos de silêncio, tal como foi feito entre o tema A e o tema B? A obra, exatamente como Gluck a compôs, pode ser ouvida, por exemplo, aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=xTZgMQ7TVes

Comentários: 7

Blogger Terra escreveu...

É o problema dos "arranjos" (que não deve ser o caso), mas também das versões (mais ou menos livres) sobre os 'originais de'...
Acontece com as peças de dança, sobretudo as do repertório clássico em que cada coreógrafo passa a ser um co-autor.
Por vezes é interessante, por vezes... uma péssima ideia.

05 junho, 2011 15:08  
Blogger Terra escreveu...

Quanto a esta peça de Pina Bausch, não é das que me atraia particularmente (embora ache perfeita a resposta das bailarinas em termos de dinâmica e qualidade de movimento). Lembra-me demasiado Balanchine...
De Bausch prefiro tudo o que nada me lembra e que me surpreende a cada 'passo' (o que é 'quase' tudo).

05 junho, 2011 15:17  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Eu achei estranho que a Pina Bausch tenha feito uma coreografia tão convencional para uma peça musical que foi composta cerca de um século e meio antes dos Ballets Russes! De certeza absoluta que o Gluck não estava a pensar numa coreografia assim quando compôs esta peça...

Eu esperava que a Pina Bausch tentasse recriar o ambiente da Grécia Antiga, por exemplo, já que a ópera se refere a uma história da mitologia grega, ou então que fizesse uma coreografia decididamente moderna, à la Pina Bausch. Enfim, foi uma manifestação de ecletismo por parte dela.

Quanto ao Gluck e à sua obra, acho que é pena que a música dele seja tão pouco tocada, porque é música de grande qualidade. O azar dele foi ser contemporâneo de dois génios tão grandes, quanto foram Haydn e Mozart, que o deixaram na penumbra. De qualquer modo, Gluck teve um papel fundamental na criação de uma ópera alemã, livre das influências da ópera italiana e dos excessos do bel canto.

06 junho, 2011 01:07  
Blogger Terra escreveu...

Olá,
Quando falei de Balanchine, já estou a falar da fase 'americana' pós Ballets Russes!

06 junho, 2011 19:42  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Com certeza, Phwo, tem razão. Nos Ballets Russes, o Balanchine pouco mais terá sido do que um aprendiz do Diaghilev, não é assim? Só nos Estados Unidos é que ele terá desenvolvido a sua própria "linguagem".

06 junho, 2011 23:55  
Blogger Terra escreveu...

Hummm.... Mais ou menos. Diaghilev não era um homem da dança, mas um homem de dinheiro e visão; culto, é certo!
Balanchine era um jovem bailarino e, sobretudo uma pessoa de grande criatividade. Foi o último dos 5 coreógrafos principais dos Ballets Russes, mas ainda assim, em cerca de 4 ou 5 anos, criou quase uma dezena de obras enquanto membro deste colectivo. Veio a ser, mais tarde, o fundador do American Ballet

07 junho, 2011 00:40  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Muito obrigado por esta lição. Sempre a aprender.

07 junho, 2011 15:54  

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