12 junho 2011

A padroeira dos campinos

A ermida de Nossa Senhora de Alcamé (Foto: Descubra Lisboa)

A igreja de Nossa Senhora de Alcamé, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fica situada em plena lezíria ribatejana, muito perto da margem esquerda do Rio Tejo, em frente do Mouchão de Alhandra, que é uma ilha fronteira a Alhandra, Sobralinho e Alverca. É uma bonita construção neoclássica do séc. XVIII, da autoria de José Manuel de Carvalho e Negreiros, que se ergue altaneira sobre uma plataforma um pouco mais elevada do que a lezíria circundante, por causa das cheias no rio. É, por isso, bem visível de longe. Para quem sai de Vila Franca de Xira em direção ao sul, chega-se à igreja tomando-se uma estrada de terra batida que se encontra à direita logo a seguir à ponte, no local onde a Estrada Nacional nº 10 faz uma ampla curva antes de se lançar na chamada Reta do Cabo.

A igreja impressiona, sobretudo, pela sua solidão no meio dos campos e pastagens, pertencentes à Companhia das Lezírias, onde deambulam cavalos e, sobretudo, touros. Gado bravo, pois claro. Em resultado do seu isolamento, a igreja foi alvo de vandalismo em 1999, do qual resultou a destruição de um valiosíssimo retábulo e o roubo da imagem de Nossa Senhora da Conceição. No lugar do retábulo está agora uma fotografia do mesmo e, nos dias de festa, é trazida para a igreja uma reprodução da imagem original, vinda de Samora Correia.

Como disse, a igreja é dedicada a Nossa Senhora da Conceição, mas o povo deu-lhe o nome de Nossa Senhora de Alcamé. Este nome Alcamé é de origem árabe e significa "trigo". Nossa Senhora de Alcamé é a padroeira dos campinos do Ribatejo e a ela está associada uma lenda, que reza assim:

Em tempos, um pastor encontrou uma pequena cobra e se dedicou a criá-la, alimentando-a com o leite das ovelhas. A certa altura terá adoecido, ficando vários meses sem ir ao campo. Quando lá voltou, foi ao mouchão e assobiou pelo réptil, como costumava fazer. A cobra apareceu, mas não o reconhecendo, atacou-o de goelas abertas. Aflito, o homem invocou a protecção da Virgem, que apareceu em sua glória, e lançou para a boca da serpente uma maçã. Engasgada e sufocada, a cobra morreu e o pastor salvou-se.

Comentários: 2

Blogger António José Boita Paulino escreveu...

curiosos os pormenores da lenda, ressonância longínqua da narrativa do Génesis.



27 abril, 2018 15:01  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Confesso que nunca me ocorreu associar esta lenda ao Génesis. A serpente, pelo menos, aí está, como agente do mal. Muito obrigado pelo seu comentário.

27 abril, 2018 17:21  

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