07 setembro 2013

Igreja do Salvador de Paço de Sousa

Fachada principal da igreja do Mosteiro do Salvador, em Paço de Sousa, Penafiel (Foto: Fmars)

Há quem pense que tem mil anos o edifício do Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, cuja igreja se vê nesta imagem. Mas não tem. O que aqui se vê, é uma obra em estilo românico, com alguns elementos góticos, que os frades beneditinos ergueram no séc. XIII, em substituição de uma outra edificação que, esta sim, datava do séc. X. O mosteiro original foi, de facto, construído há mil anos, mas depois foi substituído por um outro edifício, cuja igreja é esta que aqui se vê.

A primitiva construção, suponho eu, deveria ser pequena e rude, refletindo a dureza que a vida teria nesta região há mil anos. Nesse tempo, os mouros andavam por perto e lançavam frequentes ataques. Era o tempo do temível Almançor. Por certo que a vida por estas paragens devia então ser muito difícíl, pontuada por batalhas, pilhagens, fomes, doenças, etc. A arquitetura da época não podia, por isso, deixar de ser pobre e tosca.

Nos séc. XII e XIII, a ameaça dos mouros estava afastada para terras do atual Alentejo e a vida por aqui já deveria ser bastante melhor. Talvez se possa, mesmo, falar em alguma prosperidade. Havendo paz e uma maior abundância, foi então possível fazer uma edificação mais imponente, que substituísse a anterior.


(Foto: Fmars)

Paço de Sousa é uma freguesia do concelho de Penafiel situada a cerca de 30 km desta cidade do Porto. No seu livro "Viagem a Portugal", José Saramago escreveu o seguinte:

(...) todo este sítio, sem particulares grandezas, é dos mais belos lugares que o viajante [isto é, o próprio Saramago] tem visto. Aqui gostaria ele de viver, nesta mesma casa onde lhe deram a chave com muito bons modos (...)

Referindo-se à fachada principal da igreja, Saramago escreveu também:

Abre o viajante por sua mão a igreja, mas antes reencontrou o Sol e a Lua românicos, e o boi interrogativo em grande conversa com uma figura humana que, com a mão no queixo, se vê mesmo que não sabe responder. Por cima e aos lados, arquivoltas e colunelos são góticos, e a grande rosácea, bela e atrevida no seu lançamento.

(Foto: Pedras com Memória)

Ao longo dos séculos foram sendo feitos acrescentos e modificações ao templo, que muito o alteraram. Um grande incêndio ocorrido em 1927, que afetou sobretudo o mosteiro propriamente dito, obrigou a grandes obras de restauro, durante as quais se aproveitou a oportunidade para se eliminarem muitos dos acrescentos que tinham sido feitos e se devolver à igreja a sua traça (quase) original.

No interior do templo está um dos mais notáveis túmulos românicos que existem em Portugal: o túmulo de Egas Moniz, o tutor de D. Afonso Henriques. A respeito deste túmulo, subscrevo por completo as palavras de Saramago, que sobre ele escreveu:

(...) obra é certo que rústica, mas de um vigor, de uma força muscular, assim apetece ao viajante exprimir-se, que vencem as requintadas e minuciosas esculturas do gótico avançado e do manuelino. Outro viajante terá outra opinião. A este toca-o muito mais a rudeza de um cinzel que tem de começar por lutar consigo próprio antes de conseguir vencer a resistência da pedra. E é bom que nesta luta se veja que a pedra não foi inteiramente dominada.

Túmulo de Egas Moniz, no interior da igreja de Paço de Sousa (Foto: Mário Novais)

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