17 julho 2014

O céu e a Terra

1ª classificada do 2014 International Earth & Sky Photo Contest e da categoria Against the Lights (Foto: Giorgia Hofer)


1ª classificada da categoria Beauty of The Night Sky (Foto: Luc Perrot)


No passado dia 18 de junho, foram reveladas as fotografias vencedoras do 5º Concurso Internacional de Fotografia da Terra e do Céu 2013-14, uma organização do programa internacional The World at Night que tem por finalidade criar e divulgar fotografias panorâmicas e vídeos em time-lapse dos mais belos e históricos locais da Terra, que tenham como pano de fundo o céu noturno estrelado.

Este concurso pretende chamar a atenção do público para a importância da preservação das noites escuras e para a necessidade do controle da chamada poluição luminosa, que limita gravemente a nossa possibilidade de observar o céu noturno em toda a sua plenitude.

Participaram neste concurso mais de 1000 fotografias, provenientes de 55 países e territórios. As fotografias vencedoras foram distribuídas por duas categorias distintas: A Beleza do Céu Noturno e Em Contraluz.

Muitas das fotografias submetidas a concurso acabaram por ser recusadas porque estavam exageradamente processadas, com demasiada saturação de cor, contraste excessivo, contornos grosseiramente realçados, etc. Este excessivo processamento afetou negativamente o aspeto natural de tais imagens, por muito bonito que fosse o resultado, o que levou o júri a rejeitá-las.

As fotografias vencedoras do concurso, assim como as menções honrosas, podem ser admiradas no seguinte vídeo.





A fotografia que se vê no vídeo aos 21 segundos, e que reproduzo mais acima, mostra, obliquamente sobre o cume de uma montanha, as luzes e as sombras das estrelas e nuvens de poeiras que constituem a nossa própria galáxia, a Via Láctea.

Aos 45 segundos, veem-se as "cortinas" de uma aurora boreal, que neste caso são verdes.

Ao primeiro minuto, acima das pessoas, ergue-se quase na vertical a Via Láctea, de novo.

 13 segundos mais tarde, é percetível o movimento de rotação da Terra, através dos rastos, em arco de circunferência, feitos pelas estrelas. Esta fotografia foi feita com o sensor de imagem ativado durante bastante tempo. No mar, na zona de rebentação das ondas, é visível a luminosidade azul esverdeada causada por bioluminescência, um fenómeno de fosforescência de origem biológica que pode ser observado à noite nas nossas praias.

Seguem-se mais umas quantas fotografias belíssimas até que, aos 3 minutos e 10 segundos, se vê a Via Láctea fazendo um arco. Ora a Via Láctea estende-se pelo céu em linha reta, entre o ponto cardeal este e o ponto cardeal oeste, aproximadamente, e não em arco. Estamos, neste caso, em presença de uma fotografia feita com uma objetiva de grande angular.

 Aos 3 minutos e 18 segundos, à direita da imagem, veem-se muitos raios caindo de uma nuvem de trovoada para o mar. Esta fotografia foi também feita com um grande tempo de ativação do sensor de imagem da câmara, de maneira a que muitos raios acabassem por ficar registados nele. O resultado é magnífico.

Aos 5 minutos e 26 segundos, é claramente visível à direita da imagem a constelação da Ursa Maior. A estrela mais brilhante que se vê entre o centro da imagem, mais ou menos, e a borda superior é a Estrela Polar.

Aos 5 minutos e 50 segundos, acima da árvore, vê-se, claramente vista, a constelação de Orion. Mais para a esquerda, também claramente vista, está a estrela Sirius, que é a estrela mais brilhante do firmamento a seguir ao Sol.

Aos 7 minutos e 4 segundos, surge à esquerda uma estrela cadente (um meteorito) bem brilhante.

 O risco quase horizontal que se vê no vídeo aos 7 minutos e 13 segundos é talvez a Estação Espacial Internacional iluminada pelo Sol. Este está prestes a nascer no local onde a fotografia foi feita. Encontrando-se mais acima, a ISS (do nome em inglês International Space Station), já está ao sol.

 Aos 7 minutos e 25 segundos, o movimento de rotação da Terra é por demais evidente. Durante o longo tempo em que "o diafragma" esteve "aberto" (isto é, foi fornecida corrente elétrica ao sensor de imagem), as estrelas giraram em torno da Estrela Polar, que se manteve praticamente imóvel no centro.

 O traço luminoso que se vê aos 7 minutos e 30 segundos deve ser a lua. O "diafragma" da câmara também esteve "aberto" durante muito tempo.

Aos 8 minutos e 25 segundos, à esquerda da Via Láctea, observa-se a nebulosa mais famosa do hemisfério sul: a Nuvem de Magalhães.

Não sei a que se deve a circunferência luminosa que se vê aos 8 minutos e 35 segundos. Será fogo de artifício (fogo preso)?

Os traços que se observam aos 8 minutos e 40 segundos devem ser rastos de aviões. As luzes dos aviões a piscar, à medida que estes iam avançando pelo ar, deixaram traços interrompidos registados no sensor da câmara.

Comentários: 2

Blogger Um Jeito Manso escreveu...

Que coisa extraordinária. Desconhecia isto. Que ideia... Que beleza. Estou encantada.

As coisas que descobre e que aqui nos mostra. Tenho que agradecer.

17 julho, 2014 23:26  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Eu é que agradeço as suas palavras. Muito obrigado.

A qualidade das imagens apresentadas aponta para o uso de equipamento fotográfico de grande qualidade e elevado preço, dotado de sensores de imagem de grande sensibilidade (com sobreamostragem, nomeadamente) e fazendo uso de técnicas de realce, tais como a captura de múltiplas imagens de uma mesma cena, com diferentes tempos de exposição cada uma, e a sua posterior combinação de forma a dar origem a uma só imagem final com o efeito pretendido.

Qualquer que tenha sido o equipamento usado e a técnica empregada, a verdade é que é notável a forma como se consegue fazer ver numa fotografia, como se fosse quase de dia, uma paisagem que está mergulhada numa noite escura como breu e um céu recheado de uma quantidade tal de estrelas, planetas, galáxias, poeiras cósmicas e demais objetos celestes que o olho humano, normalmente, mal consegue discernir no meio da escuridão. O resultado é fantástico, sem dúvida nenhuma.

18 julho, 2014 03:45  

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