28 agosto 2014

Um satélite de Neptuno chamado Tritão

Tritão, satélite do planeta Neptuno (Foto: NASA/JPL-Caltech/Lunar & Planetary Institute)
Poderão ser consideradas novas umas imagens que têm 25 anos de idade? A resposta é sim. O cientista Paul Schenk, do Lunar and Interplanetary Institute, em Houston, Texas, Estados Unidos, pegou em fotografias de um satélite do planeta Neptuno, chamado Tritão, obtidas em 25 de agosto de 1989 pela sonda robótica Voyager 2, restaurou-as e produziu um detalhado mapa do referido satélite. Este mapa, por sua vez, possiblitou a realização de um filme em time frame, com cores quase reais, o qual nos mostra o que a referida sonda "viu" quando passou há 25 anos junto ao satélite Tritão. Este mapa e este filme são efetivamente novos.
As sondas Voyager 1 e Voyager 2 foram lançadas em 1977. A Voyager 1 é o mais distante de todos os objetos alguma vez fabricados pelo homem. Neste momento ultrapassou o limite mais extremo do sistema solar e navega já no espaço interestelar, a uma velocidade superior a 61 mil quilómetros por hora. A Voyager 2, por seu lado, seguiu uma rota diferente da sua "irmã gémea" e "visitou" os planetas Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno, antes de seguir, também ela, rumo ao espaço interestelar. Neste momento ela deve estar prestes a atingir o limite do sistema solar.
Apesar de terem sido fabricadas e lançadas há quase quarenta anos, numa época em que a tecnologia não estava tão avançada como agora, estas duas sondas robóticas continuam a funcionar e a enviar dados para a Terra! E deverão continuar a funcionar por muitos e largos anos mais. Espera-se que a Voyager 2, por exemplo, só perca o contacto com a Terra depois do ano 2030!
Uma das sondas robóticas Voyager 1 ou Voyager 2. Elas são iguais (Foto: NASA)
Desde que Plutão foi "despromovido" a planeta anão pelos astrónomos, Neptuno passou a ser o planeta conhecido do sistema solar que se encontra mais longe do Sol. E porque foi que Plutão foi "despromovido"? Porque é efetivamente pequeno. Plutão é um pouco mais pequeno do que a Lua, o satélite natural da Terra. Por sua vez Tritão, o satélite de Neptuno, cujas imagens aqui admiramos, é mais ou menos do mesmo tamanho que Plutão.
O que a sonda Voyager 2 nos permitiu saber, entre outras coisas, foi que Tritão tem erupções vulcânicas de azoto e poeiras, encontrando-se a sua superfície à temperatura aproximada de -236 graus Celsius. A superfície de Tritão encontra-se coberta de azoto sólido translúcido sobre um substrato mais escuro, numas zonas, e de gelo (água sólida), noutras zonas.
Neste momento, uma outra sonda robótica, lançada em 2006 e chamada New Horizons, encontra-se naquelas paragens, tendo cruzado a órbita de Neptuno na passada segunda-feira, 25 de agosto de 2014. Esta sonda tem como missão chegar até Plutão, devendo atingir este planeta anão em 14 de julho de 2015.
O belo planeta azul chamado Neptuno, nome do deus dos mares na mitologia romana, numa fotografia feita há 25 anos pela sonda Voyager 2 (Foto: NASA)

25 agosto 2014

Pois...

Foto retirada do blog Dançando com a Chuva, de Eduardo White (1963-2014)

Um homem é velho e está sentado sobre o seu analfabetismo. No entanto, escreve sobre um jardim. Palavras que, desconhecendo, o tornam belo pela pequena tesoura minuciosa com que apara as flores que as compõem. Um homem velho, suado na velha camiseta, vai, assim, perfumando a escrita. Pergunto-lhe: Que escreve? Flores, é como me responde curvado até aos enrugados dedos acariciando as palavras que vão crescendo. Fico ali, parado, olhando-o do analfabeto que agora sou. Um homem escreve flores e cores e perfumes, sentado e descalço e dentro da pobreza que veste. Fantástico, penso, este velho que alguma magia certamente o tem cantado por dentro. E as flores riem, pequenas e verdes e brancas e por um vermelho que lhes foge pelo bordo das folhas. Eu adapto-as, diz-me ele. Não percebo, respondo-lhe. Eu adapto estas flores a estas letras porque não são próprias para as palavras. São tenras e, sendo assim, os insectos comem a minha escrita. Sou o profundo espanto. Um homem escrevendo com flores e insectos comendo o que fica tão ternamente escrito nelas. Ele percebe este susto que revela, admirado, o meu rosto. Escrevo com flores faz muitos anos, mas nunca soube ler. Diz-me. Só mesmo as flores é que eu consigo entender. E um riso desce, então, pela boca do velho dobrado pela hérnia discal que agora noto e vem cumprimentar-me a mão com que eu redijo no computador. Não flores como eu gostaria que fosse, mas a ignorância total e a absoluta certeza de que jamais o saberei fazer. Ao nosso lado, uma criança abre a janela de sua casa e grita: Bom dia galinhas, enquanto um galo canta arrebatador agradecendo o cumprimento. Que lugar será este donde vejo tudo isto?

Eduardo White, escritor moçambicano falecido em Maputo no dia 24 de agosto de 2014. Texto publicado no seu blog Dançando com a Chuva

22 agosto 2014

Bolero de Ravel


Uma animação digital feita por Simon P. Brethé, ilustrando a peça para bailado Bolero, de Maurice Ravel (1875-1937)

20 agosto 2014

Os homens que vão para a guerra


Os homens que vão para a guerra, canção tradicional do Douro Litoral, num arranjo para coro a capella de Fernando Lopes-Graça (1906-1994), pelo Coro Sinfónico da Associação Musical Lisboa Cantat dirigido por Clara Alcobia Coelho

17 agosto 2014

Faço minhas as palavras de Miguel Torga

Autorretrato de Miguel Torga

Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve e com eles espiritual e singularmente a dignificou.

Miguel Torga (1907-1995), in Diário XVI

15 agosto 2014

Amélie

Um nu dos primórdios da fotografia: Nu féminin allongé, Amélie, um daguerreótipo feito em 1852 ou 1853 pelo fotógrafo francês Félix-Jacques Moulin (1802-1875). Um ou dois anos antes,  Félix-Jacques Moulin fora condenado a um mês de prisão pelo caráter «obsceno» das suas fotografias, «tão obsceno que até a enunciação dos títulos (...) constituiria um atentado à moral pública», segundo o arquivo judicial

12 agosto 2014

Rusticidade

Fachada principal da igreja de Algosinho, Mogadouro

Algosinho é uma aldeia do concelho de Mogadouro onde existe uma igreja românica do séc. XIII que comove quem a vê. Comove sobretudo pela sua beleza rústica. Postos diante dela, facilmente imaginamos os homens da Idade Média talhando muito a custo o duro granito, para construir este templo, fruto da sua devoção ingénua. Mesmo não sendo um grande monumento, nem pouco mais ou menos, esta igreja justifica bem o desvio que tivermos que fazer para a visitar. Para trás da igreja a nossa vista estende-se por um bom pedaço do frio planalto de Mogadouro e Miranda do Douro, até entrar por terras de Espanha dentro.

Se a casa de Deus é assim rústica, imagine-se como seriam as casas dos homens.

09 agosto 2014

Xamanismo no Xingu

(Foto: Aristóteles Barcelos Neto)

Hoje, 9 de agosto de 2014, é Dia Internacional dos Povos Indígenas. Para assinalar a data, proponho a visualização de um filme sobre uma prática xamânica dos índios Wauja, também chamados Waurá, que vivem no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil. O filme foi realizado pelo antropólogo Aristóteles Barcelos Neto. Do mesmo antropólogo são os textos explicativos que se seguem e que foram extraídos da enciclopédia online dos Povos Indígenas no Brasil, do Instituto Socioambiental brasileiro. As páginas relativas aos índios Wauja, concretamente, podem ser acedidas a partir do seguinte endereço: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/wauja.


INTRODUÇÃO

Habitantes do Parque Indígena do Xingu, os Wauja são notórios pela singularidade de sua cerâmica, o grafismo de seus cestos, sua arte plumária e máscaras rituais. Além da riqueza de sua cultura material, esse povo possui uma complexa e fascinante mito-cosmologia, na qual os vínculos entre os animais, as coisas, os humanos e os seres extra-humanos permeiam sua concepção de mundo e são cruciais nas práticas de xamanismo.


ASPECTOS DA MITO-COSMOLOGIA

A origem e a agência dos seres extra-humanos.

Na vida wauja, há uma presença permanente e ampla de seres extra-humanos que remonta ao tempo em que os animais eram gente e falavam. Um dos princípios em que se baseia essa presença é o elo contínuo entre os apapaatai/yerupoho e os animais, que atinge os Wauja cotidianamente, sobretudo, através de seu sistema alimentar e das teorias do adoecimento e do sonho.

Nos primórdios dos tempos, uma absoluta escuridão reinava sobre o mundo. Na superfície da terra viviam os yerupoho, seres antropormofos ou zooantropomorfos, e os humanos (os antepassados dos Wauja) viviam dentro dos cupinzeiros, na mais absoluta penúria de bens culturais: fogo, panelas, cestos, comidas etc.

Num certo dia os yerupoho ouviram anunciar que os heróis culturais dos Wauja fariam o astro solar aparecer definitivamente no céu. Apavorados com a iminente mudança cósmica, os yerupoho lançaram-se num frenético trabalho de criação de indumentárias, máscaras e pinturas protetoras contra as ações deletérias e transformadoras irreversíveis do sol. Os yerupoho criaram indumentárias extremamente diversificadas, que na verdade não eram simples "roupas" (naĩ) protetoras. Ao vesti-las, assumiram a identidade da "roupa" e tornaram-se apapaatai: uma realidade ontológica que se perpetua desde então e que corresponde às diversas classes de animais vistos cotidianamente pelos Wauja, a uma série de artefatos rituais (flautas, clarinetes, trocano) e aos seres monstruosos, estes visíveis em situações especiais e liminares - sonhos de xamãs e de doentes graves, transes e morte - ou quando são feitas as suas máscaras por ocasião das festas de apapaatai. Os desenhos figurativos aqui apresentados são um caso excepcional de visualização ampla das alteridades "sobrenaturais".

Dois tipos de transformação abateram-se sobre os yerupoho, que correspondem às duas categorias de apapaatai. Aqueles que conseguiram fazer e vestir a sua indumentária a tempo tornaram-se "roupas", que correspondem aos seres extra-humanos invisíveis e visíveis. Os seres visíveis são os animais propriamente ditos e os invisíveis são as suas "duplicações sobrenaturais", os quais possuem uma natureza monstruosa ausente nos seres visíveis. Os yerupoho que ficaram "nus" foram atingidos de maneira definitiva e drástica com o aparecimento do sol: tornaram-se apapaatai iyajo (apapaatai de verdade, ou seja, que não usam "roupas"), seres extremamente perigosos que devoram ou simplesmente matam seres mais fracos, dentre estes, os humanos. (...)


XAMANISMO

Os Wauja reconhecem três classes de xamãs: yakapá, pukaiwekeho e yatamá. Os yakapá são os xamãs de maior poder terapêutico e prestígio ritual devido à sua especialidade em resgatar as almas levadas pelos apapaatai e yerupoho, revertendo as situações de maior risco vital para os doentes. Yakapá significa, literalmente, "aquele que corre semiconsciente" para resgatar almas. Esta sua habilidade relaciona-se intimamente à visão (adivinhação/identificação) das doenças e dos seus agentes humanos e/ou extra-humanos e às relações amistosas mantidas com os seus apapaatai auxiliares.

Uma sessão xamânica de yakapá em Piyulaga é um evento para o qual converge a atenção não apenas dos familiares do doente, mas também de crianças e adultos curiosos de outras unidades residenciais. Ao assistir à performance divinatória e à extração dos feitiços e ouvir do yakapá as respostas sobre as causas e os agentes de uma doença, os indivíduos comuns (não-yakapá) aprendem e têm confirmados os fundamentos básicos da cosmologia do grupo. Essa é uma das principais posições que o xamanismo ocupa na sociabilidade xinguana. (...)

A doença é o caminho de abertura do complexo de relações entre os Wauja e os apapaatai e yerupoho. Para os yakapá em especial, foram a sua coragem e resistência em suportar uma doença grave que lhes possibilitaram receber dos apapaatai que lhes adoeceram a provocaram os poderes da visão e da audição privilegiadas. Ou seja, tais poderes são em parte oriundos da decisão de deixarem em seus corpos os feitiços que os apapaatai lhes introduziram. Portanto, os yakapá têm os apapaatai dentro de si, num convívio permanente, o que faz dos yakapá "doentes eternos". A doença grave potencializa uma experiência de poder; enquanto para alguns ela é fugaz, para outros ela se torna atemporal, permitindo caminhar por espaços e tempos distintos daqueles vividos no cotidiano. Assim, os apapaatai, que antes poderiam matar o doente, passam a ser seus aliados, ĩyakanãu ("apapaatai auxiliares"), transformando-o em yakapá, protegendo-o e dando-lhe os poderes terapêuticos e visionário-divinatório. (...)

O restabelecimento do estado de saúde inicia-se com a extração e neutralização dos feitiços e a recuperação da alma, caso esta tenha sido levada pelos apapaatai. Em situações de doenças graves, a realização de uma sessão de cantos xamânicos (pukayekene) tem por objetivo tirar enormes quantidades de feitiços do corpo do doente. Além dos cantos, faz-se o uso de chocalhos (Coelho 1988), instrumentos de imenso poder terapêutico. Segundo observações de Mello (1999:182), "a cura de um doente está relacionada à satisfação do Apapaatae com a música". Mas não só isso: as músicas de pukayekene agem como extratores dos objetos patológicos.


FESTAS DE APAPAATAI

Para se obter uma eficácia terapêutica completa nos casos muito graves é imprescindível a organização de uma festa para os apapaatai que causaram mal ao doente. Em geral, essas festas exigem a fabricação de vários objetos rituais, que podem ser pás de beiju (...), máscaras, flautas, clarinetes, desenterradores de mandioca, pilões, cestos, panelas, flechas, etc.

Mesmo resgatada, a alma (paapitsi) ainda corre perigo. Ela só estará plenamente segura depois que se realizar para o apapaatai causador da doença a sua festa específica, a qual resultará no estabelecimento de uma nova aliança entre um ente humano e um apapaatai.

As festas de apapaatai podem ser aproximadas a um tipo de terapia estética, sendo a cura a restauração da beleza. A participação do doente na festa não é significativa para sua cura, nem ele precisa receber ornamentação ou atenção artística específicapara ser curado. Mas o doente deve ser o patrocinador da festa. Diz-se que os apapaatai têm uma singular avidez por comidas e diversões, de modo que recompensará a pessoa que ele atacou e que lhe promoveu a festa protegendo-a de prováveis investidas de outros apapaatai. Assim, o doente sai mais fortalecido, não apenas quanto às suas relações com o "sobrenatural", mas sobretudo porque, ao se tornar dono de uma festa de apapaatai, ele passa a participar de uma rede de prestações e contra-prestações de serviços rituais em sua aldeia.

O ex-doente deverá oferecer a festa do seu apapaatai protetor de acordo com um ciclo mais largo, cuja periodicidade pode variar de alguns meses a vários anos. Por isso ele terá que cuidar das flautas ou máscaras dos apapaatai, que então lhe pertencerão e que ficarão em sua casa ou na casa das flautas (kuwakuho) . As flautas são preservadas com extremo cuidado, mas as máscaras são guardadas até se deteriorarem ou até o momento adequado para a sua queima.


02 agosto 2014

Kimi Djabaté


Kimi Djabaté em Guimarães

Kimi Djabaté é um músico nascido em 20 de janeiro de 1975 no seio de uma família de griots do leste da Guiné-Bissau. Os griots são os depositários da tradição oral e musical mandinga, que cantam as glórias, os louvores e as lendas da sua cultura. Kimi Djabaté toca vários instrumentos tradicionais do seu povo, como o korá e outros, mas o seu instrumento de eleição é o balafon, um tipo de marimba da África Ocidental, que ele toca desde os três anos de idade. Residindo atualmente em Lisboa, Kimi Djabaté faz-se acompanhar frequentemente pelo seu compatriota José Braima Galissa, que toca korá, e já tocou com músicos mundialmente famosos, tais como Mory Kanté, Waldemar Bastos, etc.



Kimi Djabaté em Lisboa

01 agosto 2014

O Catitinha

O Catitinha, tal como o conheci
Para mim, aquele senhor de barbas brancas que na minha infância aparecia na praia de Espinho, a chamar as crianças para junto de si com um apito, era o próprio Pai Natal, sem tirar nem pôr. Como estávamos no verão, seria um disparate alguém chamar-lhe Pai Natal, achava eu. Por isso lhe puseram outro nome: Catitinha. Eu estava completamente convencido disto. Então não se estava mesmo a ver que ele era o Pai Natal? As barbas brancas eram as mesmas e o gosto pelas crianças também. Era certo que o Catitinha não distribuía prendas, como o Pai Natal, mas só não o fazia porque não podia. Como conseguiria ele arrastar um pesado saco cheio de prendas pelo areal?

Era verdade que o Catitinha não distribuía prendas, mas distribuía apertos de mão pelas crianças. Como eu ficava vaidoso em ser cumprimentado com um aperto de mão por ele. Eu era cumprimentado como se já fosse um homem!

Embora só aparecesse uma vez por ano, o Catitinha era uma das figuras típicas da praia de Espinho, juntamente com as vendedoras de "línguas da sogra" e o Zé Batateiro, que era um vendedor de batatas fritas muito pitoresco também (ele anunciava-se como sendo o «Zé Batateiiiiiiiiiiiiiro»).

Sempre vestido com um fato completo, com laço, colete e tudo, por muito calor que fizesse, e com umas grandes e respeitáveis barbas brancas, o Catitinha possuía uma figura que só não era imponente, porque os seus olhos irradiavam bondade e não altivez, de tal modo que toda a criançada corria para junto dele, sem qualquer receio, assim que aparecia.

Mas quem era, afinal, o Catitinha? De seu nome próprio António Joaquim Ferreira, o Catitinha nasceu na freguesia de S. Tiago, no concelho de Torres Novas, em 23 de outubro de 1880, e faleceu em Avanca, no concelho de Estarreja, onde está sepultado, em 9 de abril de 1969. Dizia-se que ele tinha enlouquecido em consequência da morte de uma sua filha, por atropelamento, e que, a partir desse trágico acontecimento, ele passou a percorrer as praias todas, desde Moledo do Minho até Cascais, pelo menos, para se ver rodeado de crianças, muitas crianças, todas as crianças. E as crianças sentiam-se atraídas por ele. E ele sentia-se feliz, como se fosse uma criança grande e barbuda no meio das outras crianças.

O Catitinha ainda novo, semideitado na areia e rodeado de crianças e alguns adultos, na Praia das Maçãs, Sintra, no ano de 1937 (Foto: Margarida Pelágio)