24 outubro 2015

Emboscada

Corpos que se arrastam
e se consomem
na suja lama das picadas
e nos estilhaços das granadas
que explodem.
— Os rebentamentos
são o compasso
tétrico
da sinfonia “Morte”!
—O fogo intenso
cruzado
é o ritmo macabro
no patético bailado.
— Um homem tomba
Ei-lo que jaz
inerte, morto,
vencido!
— Outro homem grita
vendo cair a seu lado
um companheiro soldado:
“Ah grandes filhos da puta!”
“ Mataram o meu amigo!”
(E um rosto de sangue manchado)

“Cambada de terroristas!”
“Hei-de matar-vos a todos!”
(E um cheiro a sangue queimado)

— E as lágrimas amargas de raiva
rasgam sulcos vermelhos
num sujo rosto de pólvora!
É uma guerra que se declara:
Não por um povo oprimido
nem por uma Nação ofendida!
Mas por um homem ferido
num labirinto perdido
entre uma morte e uma vida!

—Transforma-se o oprimido
em instrumento opressor.
Nasce num peito uma guerra!
E, lá longe…
Na sua terra
o abutre, o carrasco,
o nazi,
a peste,
enchendo o ventre de carne
escreve:
“DITOSA PÁTRIA QUE TAIS FILHOS DESTE”!

António Calvinho, Trinta Facadas de Raiva, Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Lisboa


Coluna militar portuguesa no norte de Angola, no tempo da guerra colonial (Foto de autor desconhecido)

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