25 março 2016

Stabat Mater Dolorosa


Stabat Mater, de Giovanni Battista Pergolesi (1710–1736), pelas cantoras Margaret Marshall (soprano) e Lucia Valentini Terrani (contralto), Leslie Pearson em órgão e a Orquestra Sinfónica de Londres. Direção de Claudio Abbado


Stabat Mater Dolorosa é um poema do séc. XIII, escrito em latim e dedicado a Maria, mãe de Jesus. Tem como tema o sofrimento de Maria perante a crucificação do seu filho. A autoria deste poema é geralmente atribuída ao frade franciscano Jacopo da Todi (ca. 1230 – 1306), mas há também quem a atribua ao papa Inocêncio III (1160 ou 1161 – 1216). Muitos e diversos compositores ocidentais puseram este poema em música: Palestrina, Vivaldi, Haydn, Rossini, Dvořák, Pärt, etc. A versão musical mais famosa deste poema (e, das que eu conheço, para mim a mais bela) é a do compositor barroco italiano Giovanni Battista Pergolesi. Este Stabat Mater deve ter sido a última obra que Pergolesi compôs na sua curtíssima vida (morreu com 26 anos). Ele não musicou o poema na sua totalidade mas, ainda assim, pôs em música uma boa percentagem dele.

Há várias versões para o poema. A versão que se segue, no original em latim e com tradução em português, parece ter sido a que Pergolesi musicou em grande parte. Os versos que ele não musicou encontram-se entre parêntesis.

Stabat mater dolorosa
juxta Crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

Em pé, a Mãe dolorosa,
chorando junto à cruz
da qual pendia seu Filho.

Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.

Cuja alma gemente,
entristecida e dolorida
por causa da espada que a atravessava.

O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta,
mater Unigeniti!

Oh, quão triste e aflita
ela estava, a mãe bendita
do Unigénito!

Quæ mœrebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
nati pœnas inclyti.

Como suspirava e gemia,
Mãe Piedosa, ao ver
os sofrimentos de seu divino Filho.

Quis est homo qui non fleret,
matrem Christi si videret
in tanto supplicio?

Que homem não choraria,
se visse a Mãe de Cristo
em tamanho suplício?

(Quis non posset contristari
Christi Matrem contemplari
dolentem cum Filio?)

(Quem não se entristeceria
ao contemplar a Mãe de Cristo
dolorida com seu filho?)

(Pro peccatis suæ gentis
vidit Iesum in tormentis,
et flagellis subditum.)

(Pelos pecados de seu povo
viu Jesus em tormentos,
e submetido a flagelos.)

Vidit suum dulcem Natum
moriendo desolatum,
dum emisit spiritum.

Viu seu doce filho
morrendo desolado
quando entregou o seu espírito.

Eia, Mater, fons amoris
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.

Eia, mãe, fonte de amor
faz-me sentir tanto as dores
que eu possa chorar contigo.

Fac, ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum
ut sibi complaceam.

Faz que arda o meu coração
de amor por Cristo Deus
para se compadecer.

Sancta Mater, istud agas,
crucifixi fige plagas
cordi meo valide.

Santa Mãe, faz isto,
que as chagas do crucificado
sejam fortemente impressas em meu coração.

(Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati,
pœnas mecum divide.)

(As feridas de teu filho,
que por mim padeceu penas,
divide comigo.)

(Fac me tecum pie flere,
crucifixo condolere,
donec ego vixero.)

(Faz-me contigo piedosamente chorar,
sofrer com o crucificado,
enquanto eu viver.)

(Juxta Crucem tecum stare,
et me tibi sociare
in planctu desidero.)

(Quero estar contigo junto à cruz,
e de boa vontade desejo associar-me
ao teu pranto.)

(Virgo virginum præclara,
mihi iam non sis amara,
fac me tecum plangere.)

(Virgem das virgens preclara,
não sejas amarga comigo,
faz-me contigo chorar.)

Fac, ut portem Christi mortem,
passionis fac consortem,
et plagas recolere.

Faz que eu traga a morte de Cristo,
participe da sua paixão
e venere as suas chagas.

(Fac me plagis vulnerari,
fac me Cruce inebriari,
et cruore Filii.)

(Faz-me ferido pelas chagas,
embriagado pela cruz,
e pelo sangue do teu Filho.)

Inflammatus et accensus,
per te, Virgo, sim defensus
in die iudicii.

Inflamado e abrasado,
que eu seja defendido por ti ó Virgem,
no dia do Juízo.

(Christe, cum sit hinc exire,
da per Matrem me venire
ad palmam victoriæ.)

(Cristo, quando do mundo eu partir,
fazei-me chegar por vossa Mãe
a palma da vitória.)

Quando corpus morietur,
fac, ut animæ donetur
paradisi gloria. Amen.

Quando o meu corpo morrer,
faz que minha alma alcance
a glória do paraíso. Amen.

(Tradução adaptada de The Ultimate Stabat Mater Site)


Nossa Senhora da Piedade, escultura em granito de autor anónimo, Igreja de Sant'Iago, Belmonte (Foto: Alvaro).

Esta Pietà, tão bela na sua comovente rusticidade, emocionou profundamente o ateu José Saramago (Foto: Anna Baiao)

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